Vida e Obra de Freitas Pinto - dezembro de 2012

"Ser artista é um dom abençoado de Deus, Senhor da Criação, da Fé e da Inteligência."

Dom Lucas Moreira Neves


Fernando Freitas Pinto, baiano de Salvador, nasceu no bairro do Rio Vermelho, 68 anos, desenha desde a infância, época em que, bem criança, adorava ver o carro de bois, com seu som estridente e também o desenhava.


Era sua paixão de criança e também o vapor de cachoeira, onde sempre viajava com seu pai para  a cidade da Bahia, Salvador.


Aos 8 anos fez a sua primeira incursão na pintura, desenhando navios e animais vivenciados na fazenda de sua avó, na cidade de Cachoeira, terra de seus pais, cidade histórica e de beleza rara, com seu casario colonial e igrejas barrocas.


Seus pais cultivavam uma fazenda de propriedade de sua avó paterna, agrícola e pecuária. Suas visitas também criança às feiras livres aos sábados, nesta cidade e sem perceber, foi criando no seu inconsciente uma relação com os objetos cerâmicos e cestas trançadas que afloraram nas suas pinturas…


Visitava sempre com sua Mãe às sextas feiras na Ordem Terceira do Carmo o Sr. Dos Passos, escultura de singular relevância e a igrejinha de Nossa Senhora da Ajuda com seu Pai que lhe causava admiração.

Visitava também sempre com seus pais as missas de domingo, as igrejas do Senhor do Bonfim, Matriz de N.S. do Rosário de Cachoeira, São Francisco, N.S. da Conceição da Praia, Sacristia da Catedral Basílica em Salvador e ficava deslumbrado com os desenhos dos azulejos portugueses, pinturas das obras, esculturas das imagens e toda ambientação luminosa e dourada dessas igrejas...


No acervo da Igreja do Bonfim, admirava e apreciava demoradamente as obras " Morte do Pecador e a Morte do Justo" e a Sala dos Milagres. Sua Mãe apontava sabiamente para essas obras e para os " Ex -Votos" , lhe direcionando para uma reflexão de vida...


E, também ainda criança, apreciava com seu Pai as centenárias filarmônicas da cidade, Minerva Cachoeirana e Lyra Ciciliana com seus dobrados, o que faz ter uma admiração para a música clássica e com sua Mãe as lembranças da tradicional procissão na Festa de Nossa Senhora da Boa Morte.


O berimbau veio depois, encantado também com a sua sonoridade e as cores das cabaças, quando visitava com seu pai o velho Mercado Modelo e vivenciava os feixes de berimbaus coloridos nas lojinhas de artesanato e rodas de capoeira.


E também se encantava com os barcos e saveiros da rampa do mercado.


Saveiros, vindos das cidades de Cachoeira e Maragogipe, pelas águas do Rio Paraguaçú, com mercadorias e potes cerâmicos.


Quatro anos depois já reproduzia trabalhos de Vitor Meireles, Pedro Américo e Rodolfo Amoedo, tirados de seus cadernos escolares e livros de história.


Com o passar dos anos, já na adolescência, Freitas Pinto admirava obras de Almeida Júnior, Belmiro de Almeida.


Colecionava HQ, pintava e desenhava com bico de pena, lápis e pincel, paisagens rurais, barcos, cartazes de cinema, pessoas, além de construir pequenas esculturas. Na escola e no ginásio ganhava prêmios e elogios dos seus professores. Nessa época, conhece e vivencia a pinacoteca da Escola de Belas Artes na Rua 28 de Setembro, em companhia de seu professor de desenho do ginásio e também professor catedrático daquela Escola. E, tem boas lembranças daquelas visitas, quando também ia à biblioteca pública, na praça Thomé de Souza e ao escritório de seu pai, na rua Chile.


É quando se encanta com as obras de Alberto Valença, Cañizares. Manoel Lopes Rodrigues e Emídio Magalhães.


Também com com os relevos de Ismael de Barros, os desenhos e pinturas dos grandes mestres, além da bela coleção de gesso oriunda da França.


Freitas Pinto desenvolveu e buscou a sua própria técnica. Teve aulas de desenho, pesquisou a fotografia como suporte de informação, análise de tons e padrões de figuras, exercitou a prática do modelo vivo estudando a anatomia feminina, o esqueleto e a estrutura dos músculos com desenhos, modelagem e posteriormente com a pintura, o que lhe valeu duas exposições individuais sobre o tema.


Fernando sempre se preocupou com equilíbrio, os claros escuros, a fatura do pincel e a cor, buscando e traduzindo em pinturas realistas. Pesquisou, desenhou e pintou fachadas e interiores de igrejas barrocas de Salvador, além de marinhas e detalhes da arquitetura colonial portuguesa. Vivenciou também as obras de Michelangelo, Rafael, Degas, Mondrian, François Millet, Renoir, Picasso, os claros escuros e a luminosidade de Rembrandt, fazendo estudos e releituras.


Ainda, citando também a pintura de René Magritte "Isto não é um cachimbo", datada de 1929, em acervo do Museu de Arte do Condado de Los Angeles, obra que leva o perceptor a pensar, refletir e interpretar o objeto em si...


Quando estudava no ginásio e no curso científico no Colégio da Bahia - Central, Fernando dos 15 aos 18 anos dava aulas de Português, Matemática, História, Geografia, Artes e Ciências Naturais para jovens do terceiro e quarto anos primários em uma escola particular. Uma professora formada, fazia a prova de qualificação dos alunos em junho e dezembro, a qual o elogiava junto à dona escola pelo bom desempenho dos alunos...



Aos 19 anos, após a morte de seu pai, foi trabalhar por mais de duas décadas em um importante e centenário grupo empresarial MJC, fundado em 1877, com setores agrícolas, industrial, importação e exportação, empreendimentos imobiliários e atuação em bolsa de valores. Onde se destacou como Assessor da Presidência vivenciando o escritório, a administração e o comércio conciliando com sua atividade artistica.

Escritório MJC - fotografias Album da Bahia - 1930


Entre outros estudos e cursos, graduou-se em Artes Plásticas pela centenária Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, fundada também em 1877 com excelente desempenho e foi aprovado com distinção no Mestrado em Artes, também na EBA-UFBA.


Professor adjunto nível IV dessa Escola, lotado no Departamento de Expressão Gráfica e Tridimensional, atua em várias técnicas das Artes Plásticas, tendo lecionado oito disciplinas para os cursos de Artes Plásticas, Desenho Industrial, Licenciatura em Artes, Decoração, Arquitetura, Museologia e Psicologia. Há alguns anos, Freitas Pinto dedica-se ao ensino da disciplina Prática Profissional, orientando alunos graduandos no curso de Artes Plásticas e Design de Interiores e também Arte Mural.

Vice diretor da Escola de Belas Artes e Diretor em eventuais oportunidades, Freitas Pinto foi durante uma década, Membro do Conselho Superior da Universidade Federal da Bahia e Câmara de Graduação.


Ocupou por duas vezes a Chefia de Departamento de Expressão Gráfica e Tridimensional, além de ser Membro de 2 Colegiados e Congregação da Escola de Belas Artes nesses últimos 14 anos. Há mais de 15 anos escreve sobre Artes Plásticas para o Jornal Tribuna da Bahia.

Entre exposições individuais e coletivas realizadas, Freitas Pinto conta mais de uma centena, com participação em Salões, Bienais na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Holanda, China e Portugal. Foi artista em destaque na Escola de Belas Artes da UFBA, por duas vezes, detentor do Prêmio Copene de Cultura e Arte em 1996, além de muitas outras premiações, como troféus, medalhas e menções honrosas.


Homenagem à Profª Maria Helena Flexor na reitoria da UFBA, tendo como diretor eventual da EBA, Prof. Fernando Freitas Pinto ao lado do vice-reitor Prof. Othon Jambeiro e da  Profª Celeste Almeida, eleita diretora da EBA.


Também teve obras com cessões de direito à Rede Globo de Televisão para cenários de novelas, participando também do vídeo "Mestres da Arte Bahiana", pela Rede Bahia TV e Campanha Nacional, tem citações em livros e periódicos por especialistas em arte e apresentações críticas de importantes nomes da área. Tem vivência em ambientação de interiores, como professor de projetos de decoração, administração de empresas e colunista de Artes Plásticas.


Eventos na Escola de Belas Artes, coordenados pelo Prof. Fernando Freitas Pinto


Sua primeira exposição pública com sala individual foi em 1984, com uma mostra retrospectiva de trabalhos realizados a partir de 1964, na Galeria Le Dome, quando o crítico de arte José Walmir Lafere fala sobre a obra do artista em dezembro de 1984:

"Exemplo típico encontramos nos trabalhos de Fernando Freitas Pinto, a sua linguagem pictórica é provida de criatividade... que imprimem um ritmo bastante agradável. O colorido é firme, uniforme, sem exceder nos contrastes entre as cores quentes e frias, evoluindo de um positivismo puro para uma tênue mistura de tintas, atenuado pelo desenho mais rigoroso. Fernando Freitas Pinto expõe ainda alguns quadros de paisagens marinhas, notando-se no conjunto das suas obras uma harmonia estilística, força de um crescimento interior."


Com obras em acervo de empresas particulares, públicas, hotéis, residências e galerias na Bahia e outras fora do país, Freitas Pinto é também autor de capas de catálogos da Pós Graduação e Teses de Mestrado e Doutorado da UFBA, além de participar de júris, bancas examinadoras e curadoria.

Sua última exposição individual em 2001 foi uma retrospectiva de 10 anos, no Conjunto Cultural da Caixa, em Salvador, com a exposição Configurações Forma e Conteúdo, pela passagem comemorativa dos 140 anos daquela instituição.


Nas duas últimas décadas vem desenvolvendo suas pesquisas com pinturas inspiradas na cultura popular, como o pote cerâmico, o berimbau e os trançados, onde explora a cor e a forma, com obras singulares.


Nessas temáticas há relevâncias dos seus contextos culturais e sociais na história e nas tendências dos mais diferentes povos. Freitas Pinto tenta fazer uma arte que tenha um entendimento romântico na criação da beleza, na simplicidade, com significado simbólico, formando assim uma consciência artística de referência popular. 


FASES PICTÓRICAS


"A imaginação na arte consiste em saber achar a expressão mais completa de uma coisa existente" Gustave Courbet

O semelhante no dessemelhante

Comparativamente com o "Cachimbo de Magritte" quando a obra leva também o perceptor a pensar, refletir e interpretar o objeto em si e sua ressignificação...

Na pluralidade das manifestações artísticas da pós-modernidade do contemporâneo, o artista busca distinguir o objeto utilitário de valor intrínseco, interpretando o seu papel de origem em obra de arte.

O objeto é interpretado da sua existência material para a tela e de lá para o imaginário do perceptor. Trabalhando sobre a superfície bidimensional da tela, o artista explora a ilusão espacial, com o objetivo de obter uma intensa expressividade e ilusão de profundidade e volumetria. Nessa temática pictórica, busca também, apresentar duas características minimalistas: a utilização do pote como objeto único e a monocromia. A cor alaranjada do barro queimado aparece em nuances ou reforçadas por suas próprias variações.


Além dos trabalhos com a cor do barro, apresenta, também, trabalhos geométricos coloridos com a figura do pote em translucidez.


Aparência na Transparência


"... na arte do trançado nós encontramos as relações geométricas da arte contemporânea e relações gráficas e cromáticas de alta qualidade. A imaginação declinante e livre que a nossa arte conquistou, não é superior à narração delirante da arte popular." Jacob Klintowitz.

Nessa abordagem pictórica o artista trabalha com o pincel e a espátula sobre a tela, releiturando e depurando a forma, no geometrismo da figura, nas diagonais e paralelas e na reciprocidade das cores, apresentando uma configuração nova, com significado simbólico de resultados abstratos, numa metáfora de cores e formas.


Berimbau sim, berimbau não...


No universo da arte contemporânea o artista tenta levar a ideia plástica da figura simples do berimbau, objeto de conteúdo e originalidade para a tela, releiturando e captando detalhes, formalizando-o em obra de arte, buscando imagens expressivas, em uma nova e inédita abordagem pictórica, formando, assim, uma consciência artística de referência popular. Na tela a configuração do objeto, numa celebração da cor com a forma e suas variações, que se subordinam a linguagem figurativa.


A apropriação de imagens está presente nas Artes Plásticas sempre e em todos os tempos... Cada artista dentro da sua narrativa plástica e visual, na liberdade de expressão, na singularidade criativa e também pensamental.


Seu atelier no Litoral Norte da Bahia, lugar de liberdade e reflexão, cria formas com tons de cores, linhas, planos, texturas e transparências.

Vista do atelier - projeto de concepção do artista.

E, num caminho solitário, na emoção do ver realizado, do construir, o artista sonha com um trabalho mágico, buscando comunicar esse sentimento com o perceptor, na simplicidade da sua obra, sua força e sua paixão...

MENÇÃO
Ao Índio brasileiro com sua marca indelével no modelar o pote e fabricar o trançado, com suas angustias pela sua sorte e pelo seu futuro uma devida menção e reflexão...


DESTAQUE

Com a capoeira e o berimbau colorido, destaco a beleza de toda a riqueza cultural afrodescendente.

     

                   RECONHECIMENTO

À Maria da Graça, pela sua sensibilidade e sintonia com a minha arte...



HOMENAGEM

Meu Pai, com sua sabedoria e simplicidade me ensinou a viver com

seu exemplo... E, minha Mãe com seu sorriso, seu carinho e seu amor...


Arthur Freitas Pinto e Maurilia da Silva Freitas Pinto


Presépio da mãe do artista - 1983

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